O Geossítio Batateiras localiza-se no sopé da Chapada de Araripe e é caracterizado pela presença de fontes naturais de água que fertilizam o Vale do Cariri e abastecem a população local. Estas fontes, nas últimas décadas, tornaram-se balneários e áreas de lazer da comunidade. O sítio é um dos lugares mais afamados do município do Crato, já que daí oriunda a “lenda da pedra da Batateira”, um dos mitos fundantes da cidade, que remonta a presença indígena. Diz uma das versões que a Chapada do Araripe era entrada para um lago encantado, cujo único acesso estava segurado pela Pedra da Batateira. Assim que este lugar fosse profanado, a água, jorrando, iria inundar todo o Vale do Cariri e matar a sua população inteira. Neste tipo de narrativa há elementos indígenas que constam da existência de “serpentes” e “mães de água” e de forças encantadas, e também elementos de narrativas cristãs como a ideia do Dilúvio e do Apocalipse.
Na área do geossítio encontram-se edificações, como uma casa que serviu de primeira usina de eletrificação da cidade, a antiga Usina Hidroelétrica, erguida em 1939, já desativada. Também interessante é o Sítio Fundão, que serviu, durante décadas, como uma estação ecológica, mantida unicamente pelos esforços de um particular, o Seu Jefferson, pioneiro da consciência ambiental no Cariri. Neste sítio, recentemente declarado como parque estadual, ainda encontram-se, pois, uma edificação rara de um sobrado de taipa (tendo um andar superior) e restos da engrenagem de um antigo engenho de rapadura, movido a boi.
Aspectos Geológicos
Nas margens do rio da Batateira aflora uma intercalação de arenitos com uma rocha argilosa de cor escura (folhelho), ambos da Formação do Rio da Batateira. Esta sequência de rochas sedimentares registra o momento em que a região era caracterizada por ambiente fluvial/lacustre, onde os rios corriam formando eventuais ocorrências de planícies de inundação (níveis argilosos), sob um clima quente e semiárido, há aproximadamente 115 milhões de anos (Período Cretáceo).
Nesta formação destacam-se os fósseis de conchas de microcrustáceos (ostracodes), fragmentos de vegetais e pequenos peixes. Estes fósseis ocorrem localmente e são extremamente frágeis, devido à composição e estrutura das rochas argilosas (folhelho).
Curiosamente, estes folhelhos escuros foram depositados em um ambiente de águas calmas e com muita matéria orgânica, com baixa oxigenação das águas, permitindo a geração de petróleo e gás. Todavia, este petróleo não ocorre em quantidade suficiente que permita a sua exploração econômica.
Parque Estadual Sítio Fundão
Mardineuson Alves de Sena
O Parque Estadual Sítio Fundão, criado pelo Governo do Estado, em 05 de junho de 2008, corresponde a uma área de 93,54 hectares. Está localizado na área urbana do município do Crato, a 3km do centro da cidade. O Sítio Fundão é uma área protegida com espécies dos biomas Cerrado e Caatinga, até remanescentes da Mata Atlântica, que apresenta características da composição florestal original da área sul do Estado do Ceará. Esta Unidade de Conservação de Proteção Integral encontra-se sob a responsabilidade da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), através do Núcleo de Apoio à Gerência da Unidade de Conservação (NAGUC) e da Coordenadoria Florestal (COFLO).
A Unidade de Conservação Sítio Fundão faz parte da Categoria “Parque” e tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação e lazer em contato com a natureza e do turismo ecológico. (SNUC, 2000)
Em relação ao patrimônio do Parque Estadual Sítio Fundão, merecem destaque os aspectos naturais e histórico-culturais. Entre os valores naturais e colaboradores para a preservação do Sítio Fundão: a diversidade do ecossistema local; a vegetação exuberante com flora significativa; as fontes intermitentes do Parque e do seu entorno; o rio da Batateira e suas corredeiras, somando-se ao seu microcanyon; os caracteres e exemplares da fauna local; e a sua inclusão como um dos territórios do Geopark Araripe, abrangendo o Geossítio Batateiras.
Em relação aos elementos histórico-culturais, a área apresenta algumas edificações de valor cultural e histórico, entre elas a casa de taipa de dois pavimentos; os materiais arqueológicos; as ruínas e os materiais de um engenho de alvenaria e de madeira, com tração animal, do séc. XIX; além de uma barragem em pedra, cuja construção é atribuída aos escravos. Essas construções estão em processo de tombamento, sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.
De acordo com as diretrizes legais do SNUC para uma Unidade de Conservação de Proteção Integral e as atividades priorizadas na atual gestão do Parque Estadual Sítio Fundão (SEMACE), estão sendo realizadas etapas estratégicas, de caráter interno e externo, na busca de potencializar as atividades socioambientais, ecoturisticas e científicas, na Unidade de Conservação.
O Parque Estadual Sítio Fundão possui ainda trilhas onde se pode contemplar a paisagem e a biodiversidade da fauna e flora locais. Estas trilhas compreendem visitas ao mangueiral, às ruínas do Engenho, à prainha, ao rio da Batateira, ao microcanyon e à barragem de pedras.
Atualmente, o Parque encontra-se oficialmente fechado, mas o acesso individual ou em grupo é permitido mediante autorização da Gerência da SEMACE, com regras definidas para as atividades ecoturisticas, de educação e de interpretação ambiental, desde que não ofereçam impactos ao local.
As características ambientais e a beleza cênica do Parque Estadual Sítio Fundão configuram-se como um patrimônio importante para a região do Cariri. Preservar e realizar atividades sustentáveis nesse local é função de todos!
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